sexta-feira, 24 de abril de 2009

Prefácio


Adiante estava a última fronteira. Para trás só havia o rastro
de um passado que desejava apagar: amores fracassados,
sonhos não realizados, culpas não perdoadas. Eu havia chegado
a um ponto em que todas as mentiras soavam como verdades e
em que todas as verdades já não importavam mais.
O que eu deixava para trás? Deixei minha noiva embarcar
em um avião sem passagem de volta. Deixei as palavras de um
pai decepcionado: “Você é pior do que um mendigo, porque
um mendigo explora quem não conhece, enquanto você explora
quem te ama”. Mas o pior de tudo foi ter deixado o meu melhor
amigo morrer...
Naquele dia, minha vida inteira cabia dentro de uma
surrada mochila. Todas as minhas esperanças estavam
depositadas dentro dela. Joguei tudo o que havia me restado
sobre a mesa do posto de inspeção. O ganancioso guarda da
fronteira perguntou se eu levava algo de valor. Respondi que
não. Ele não acreditou, revistando-me dos pés à cabeça. Depois,
olhando para o companheiro de farda, disparou desapontado:
“Este garoto não tem nada, pode deixar ele ir embora”. Seu
fuzil enferrujado apontava para o vazio. Quisera ele me
executar, talvez não fizesse diferença, porque eu não tinha mais
nada a perder. Mas ele me deixou partir.
Respirei fundo e cruzei a última fronteira, sem olhar para trás.

Nenhum comentário:

Postar um comentário