sexta-feira, 24 de abril de 2009

3º Passo



(...)
A felicidade com que elas se dirigiam ao mar era algo
comovente, que superava até a emoção do Caribe. Ah! O Caribe!
O mar azul, de um azul que se funde com o azul do céu. Aquilo
tudo me fazia crer que o azul era a cor do paraíso. Mergulhei
levantando a areia fina do fundo. A água translúcida permitia
que se vissem os peixinhos nadando, mas deixei de prestar
atenção neles para fixar meu olhar naquelas senhoras no mar.
Jogavam água uma na outra, como crianças felizes. Sorriam. O
sol iluminando a cena. É possível ser sempre feliz assim?
Flutuando no Caribe, com os olhos voltados para o céu, eu
acreditava que sim.
Íamos à praia pela manhã, levando sanduíches que
comíamos sorrindo na beira do mar. Até que um dia,
caminhando pela praia em direção a Pigeon’s Point, Sheila
perdeu o sorriso. Perguntei o que havia acontecido. “Passei
minha lua-de-mel ali”, ela apontou para um hotel, cuja varanda
se apoiava na areia da praia. Imaginei os momentos de uma
vida ao lado de alguém que partiu, mas cujas pegadas de amor
não foram apagadas.
Mesmo olhando para um hotel em que minhas lembranças
nunca haviam se hospedado, a voz do meu amigo Felipe ecoava
por aquelas paredes: “Vamos viajar juntos, já adiamos demais”.
Dois dias depois, ele sofreu um acidente fatal. Havíamos adiado
demais. As ondas varriam minhas pegadas, mas eu sabia que
havia caminhado por aquela praia. Talvez as pegadas possam
ser apagadas, mas os passos permanecem no coração.
Deixamos o hotel das lembranças para trás, buscando novos
lugares para hospedar novas alegrias, até que os dias das nossas
pegadas nas areias brancas se passaram. Sheila e Ver voltaram
para Trinidad. Ouvi de Ver na despedida: “Eu tinha dois filhos
adotivos...”. Passando a mão em minha cabeça, ela completou:
“Agora tenho três”.
(...)

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