sexta-feira, 24 de abril de 2009

2º Passo


(...)
Sentado no alto de um rochedo, eu contemplava um país
misterioso. Na língua indígena, Guiana significa “terra das
águas”, uma terra úmida que regava uma selva sem fim.
Enfeitiçado pelo chamado da floresta, caminhei até a borda do
abismo. Minha intenção era tirar algumas fotos inesquecíveis,
mas quase acabei caindo no esquecimento. Escorregando na
borda do penhasco, me vi pendurado em uma rocha, com os
pés flutuando no vazio. A pedra lisa não garantia apoio
suficiente para me impulsionar de volta. Um movimento mal
calculado me faria abraçar aquela selva para sempre.
Percebendo o perigo, o finlandês correu em meu socorro e me
puxou de volta à vida.
Por duas vezes aquela montanha havia me alertado. Um
passo em falso e tudo acaba. Um segundo e todo o tempo já
não importa mais. Ergui meus olhos e vi novamente a floresta.
Seu ar selvagem havia se multiplicado por mil. Aquela selva,
aquela montanha, aquela terra das águas, tudo se tornara ainda
maior. A consciência da morte expande a mente, valoriza cada
passo e intensifica cada segundo. Essa estranha adrenalina
injetada em momentos extremos é o que muitos buscam para
despertar. Mas seria necessário caminhar até o umbral da morte
para isso?
Meus olhos fitavam a grande selva da Guiana. Estava
assustado, não pelo fato de quase ter caído no precipício, mas
pela mórbida ideia que se passou em minha mente naqueles
poucos segundos. “E se eu me soltar? Descobrirei o grande
segredo da morte... Mas e se não houver segredo algum? E se
não houver nada após a vida? Não fará diferença, porque estarei
morto. Mas se eu encontrasse o paraíso?”. Meus pensamentos
foram interrompidos pela mão que me libertou dessas ideias
absurdas. Em segurança, com os pés fincados sobre a rocha,
meus olhos continuaram a namorar a grande selva da Guiana.
Em algum ponto daquele primitivo horizonte, o religioso
Jim Jones prometeu o paraíso aos seus seguidores. Quase mil
fanáticos se suicidaram ao mesmo tempo, acreditando que a
morte os conduziria a uma vida melhor. Que passagem macabra
para um destino incerto. Em algum lugar daquela selva estava
enterrada a grande dúvida do homem: o que há além do que
pode ser visto? O que há? Respirei a dúvida e enchi os pulmões
de esperança. Dei as costas à questão. Ainda desejava me
confundir por muitos anos, nesta doce incerteza chamada vida.
(...)

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