sexta-feira, 24 de abril de 2009

17º Passo


(...)
Cheguei a um povoado e bati palmas diante de uma casa. Minha
intenção era pedir para montar minha barraca debaixo de uma
tapera que guardava ferramentas agrícolas. Uma mulher que
morava na casa em frente perguntou o que eu queria. “Eu ia
pedir para acampar debaixo daquela cobertura”, respondi. “O
pessoal dessa casa está viajando”, ela informou. Um senhor
surgiu por trás da mulher e perguntou: “Por que quer ficar aí?”
Respondi que era um bom lugar para a minha barraca, porque
estava coberto. “Uai, se quer um teto vem pra cá”, ele disse
como se fosse a coisa mais natural do mundo, chamar um
estranho para dormir em sua casa. E talvez devesse ser.
Tirei meus sapatos cheios de lama e entrei meio sem jeito.
Eu estava ensopado e molhei todo o chão. Seu Joaquim e dona
Cídia me deram uma toalha e eu fui tomar banho. Como um
simples banho quente pode ser tão bom assim? Mais tarde, eu
fui convidado para um jantar bem temperado. Expliquei que
estava com dor de barriga e então me deram algo leve para
comer. Conversamos na cozinha protegida pela imagem do
Sagrado Coração de Jesus. Estava realmente acolhido naquele
lar.
De noite, aquecido por um macio cobertor, ouvia a
tempestade caindo impiedosamente sobre o telhado de amianto.
Olhei para a minha frágil e remendada barraca encostada no
canto do quarto. “Se eu estivesse dentro dela...”, tentei imaginar.
Poderia dizer que tive apenas sorte ao longo do caminho,
encontrando sempre comida e abrigo nos momentos em que
mais precisei. Mas não pensava dessa forma tão ingrata.
Durante a minha viagem pelo Caminho da Fé, eu não estava
reencontrando apenas a minha fé em Deus. Eu estava
reencontrando algo muito mais difícil de encontrar nos dias de
hoje: a fé nas pessoas. Afinal, se Deus se revelava para mim,
era justamente por meio de seus anjos sem asas, que Ele
colocava em meu caminho.

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