sexta-feira, 24 de abril de 2009

16º Passo


(...)
Quando eu estava saindo da cidade, uma menininha olhou
para a minha mochila nas costas e perguntou: “Oi tio! Vai pra
onde?”. “Aparecida do Norte”, respondi sem vontade. “Por
quê?”, ela queria saber. Muitas pessoas vão para Aparecida
em romaria, para rezar aos pés da santa padroeira. Respondi
que estava em romaria. “A pé?”, seus olhos inquietos olharam
para os meus pés. Respondi que sim. “Por que não vai de
ônibus? Meu tio foi de ônibus porque ele disse que é muito
longe”, ela não entendia. Muitas pessoas vão a pé para
Aparecida para pagar uma promessa ou se redimir de algum
pecado. Respondi que era necessário fazer algum sacrifício para
173
pagar promessa ou pedir perdão. “Por quê?”, a menina não
desistia. Tentei virar o jogo e perguntei: “Por que quer saber?”
A menina respondeu: “Porque quero aprender as coisas”. “Por
quê?”, comecei a ser cruel. “Porque quando eu crescer, vou ter
que saber de tudo”. Quantos anos aquela garotinha tinha?
Queria que ela nunca crescesse, porque os adultos se
decepcionam quando aprendem que não há resposta para tudo.
“Preciso ir”, abandonei a menina sem resposta. Queria fugir
antes que ela dissolvesse a certeza do meu caminho e me
deixasse em dúvida sobre o sentido dos meus passos. Ela me
viu cambaleando, porque o meu estômago ainda doía. Acho
que percebeu a minha dor. “Tio”, eu ouvi ela me chamar. Virei
o rosto contrariado. A menininha se aproximou dizendo: “Acho
que Nossa Senhora é boazinha. Ela não vai ficar contente
quando ver que o senhor tá com dor. Não importa o que o senhor
fez de errado, se o senhor pediu desculpas e não vai fazer a
mesma coisa de novo, ela vai perdoar. Do mesmo jeito que
minha mãe me perdoa quando eu faço coisa errada e fico
arrependida. E não entendo porque tem que sofrer pra agradar
Nossa Senhora... Minha mãe não gosta quando me machuco ou
fico chorando”. Por que será que as crianças crescem? Uma
mulher gritou da porta de uma casa: “Eu já falei pra você não
ficar falando com estranhos, volta já pra cá!” A menina me deu
um ‘tchauzinho’ e foi pedir desculpas para sua mãe, com um
sorriso no rosto.
(...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário