sexta-feira, 24 de abril de 2009

15º Passo


(...)
Ajoelhei e rezei. Não pedi proteção, não pedi perdão, não
pedi nada. Se merecesse proteção, estaria protegido. Se meus
pecados pudessem ser perdoados, seria perdoado. Se merecesse
receber algo, receberia. Bastava acreditar em Deus. Mas e se
Deus não existisse? Essa era uma dúvida que eu tentaria apagar
com meus passos. Tudo o que fiz, ajoelhado diante daquela
igreja, foi agradecer. Agradecer pela chance de pelo menos
tentar acreditar em meu destino.
O dia abandonou a praça. Sentei em um banco, sem saber
ao certo o que fazer. Um garotinho passou de mãos dadas com
a mãe e só largava dela para levar um punhado de pipoca doce
à boca. Lembrei-me dos dias em que era uma criança, e minha
mãe me levava à igreja. Depois da missa, ela costumava comprar
uma pipoca como aquela para mim. Eu queria aquela pipoca
de novo, queria voltar àquele tempo em que eu acreditava. O
garotinho parou, disse algo para a mãe e veio correndo em
minha direção. “Você quer pipoca, moço?”, o garotinho
estendeu o pacote. “Não, obrigado”, eu sorri. O garotinho sorriu
de volta, deu as costas e começou a andar. Depois de alguns
passos, ele voltou e disse: “Acho que o senhor tá com vergonha,
não é? Pode pegar, minha mãe dá outro pra mim”. O garotinho
deixou o pacote no meu colo e saiu correndo. E, de mãos dadas
com a mãe, dobrou a esquina e sumiu. Para mim, aquele foi um
pequeno milagre, como tantos outros que acontecem na vida e
sequer são percebidos.
(...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário