sexta-feira, 24 de abril de 2009

10º Passo


(...)
Tateamos nosso caminho até o Paredão do Eco. Gritávamos
na escuridão, ouvindo nossas próprias vozes repetidas pelas
rochas. Estávamos nos divertindo com isso, até o momento em
que ouvimos um som que não partiu de nenhum de nós. Parecia
o rugido de uma fera. Ficamos em silêncio, não ouvimos mais
nada. Deitamos na rocha nua, olhando para as estrelas no céu.
E sobre travesseiros de pedra, falamos sobre coisas absurdas,
porque estar ali já era absurdo. Estávamos vivendo o
impossível.
Longe das falsas luzes dos homens, as estrelas podiam
brilhar de verdade. Ou não? E pensar que muitas daquelas
estrelas sequer existiam. Depois que uma estrela morre, a sua
luz emitida em vida continua viajando pelo espaço, cruzando
milhares de anos-luz até chegar a um planetinha minúsculo do
sistema solar. Até quando as luzes daquelas estrelas mortas
viajariam pelo vácuo? Talvez essa fosse a ilusão da eternidade.
“Olha! Uma estrela cadente”, eu apontei. “E outra!” Quando
era criança, acreditava que tinha o direito de fazer um pedido a
uma estrela cadente. E muitas riscavam o céu naquele instante.
Deitado na dura rocha, eu sabia que eram apenas meteoritos se
incendiando ao entrar na atmosfera. Mas, naquela noite, eu
queria acreditar que as estrelas cadentes eram os sonhos do
céu caindo na terra. Adormecemos, cada qual em busca de suas
próprias estrelas cadentes.
(...)

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